Fiquei surpresa ao ver que após apenas um mês da divulgação do blog já alcançamos mais de 1.000 (mil) visualizações! O mapa dos acessos comprova que tem muita gente vendo, sentindo e vivendo novas experiências pelo mundo afora...
Isso fez-me lembrar do convite que fiz para a nossa festa de despedida de Brasília. Desde que li essa mensagem de Amyr Klink, ela ecoa em minha mente. Principalmente nos momentos em que as dificuldades do dia-a-dia aparecem.
Por falar em dificuldades do dia-a-dia, vou aproveitar e explicar um pouco melhor (a pedido da amiga Luiza Horta) quais foram e estão sendo as nossas principais dificuldades aqui em Libreville. Mas antes, gostaria de compartilhar o motivo de termos escolhido o Gabão para essa nossa primeira remoção. Ao final do post, deixo algumas dicas para aqueles que vão topar em breve sair para sua primeira missão ou que, por qualquer motivo, pensam em se aventurar em destinos menos conhecidos e familiares.
O Gabão nos chamou a atenção por diversos bons e inesperados motivos. Mais ou menos em ordem de prioridade, foram eles:
- Vontade de viver na África;
- País politicamente estável e seguro - foi preciso estudo, muito estudo para analisar as possibilidades de crises futuras (não temos um perfil excessivamente aventureiro...);
- País economicamente mais desenvolvido que a média da região (PIB per capita PPP de mais de US$ 16 mil, ainda mais em Libreville, enquanto o do Brasil é de cerca de US$ 12 mil);
- País de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) médio, o mais alto de toda África Subsaariana e um dos mais altos entre todos os postos disponíveis para as missões diplomáticas que foram oferecidas à turma 2010-2012 do Instituto Rio Branco.
- Cidade estruturada. Vídeos e fotos (youtube, google, blogs) da cidade mostravam que além da vantagem de ser uma cidade de praia, com uma bela vista e boas oportunidades de passeios e turismo, era uma cidade organizada, grande e asfaltada (!)
- Falar francês. O Cassiano queria viver em um país francófono, para adquirir fluência, e eu gostaria de aprender.
Então, se você está seguro das suas decisões, tudo se torna mais fácil! ;)
Vamos aos desafios, especificamente aqui para o Gabãozinho:
Aeroporto. Ao desembarcar no "Aéroport Léon Mba"
, antes mesmo da imigração, tem um balcão para a conferência das carteiras de vacinação. É obrigatória a vacina contra a febre-amarela. Achei o controle de entrada até mais rigoroso do que aquele dos Estados Unidos. Os policiais não são exatamente cordiais. A entrada no país também exige visto (exceto para passaportes diplomáticos). Mesmo que eu estivesse vindo de Johannesburg (África do Sul), foi aqui que eu me senti entrando realmente na África. Saímos do Brasil com 5 malas, mas chegamos aqui com 6 e não por consumismo. Foi porque tivemos que comprar uma mala extra no aeroporto (ainda em Curitiba) para dividir o peso, o máximo são 32 kg por mala - sem negociação.
Clima. Depois da experiência do aeroporto veio a adaptação ao clima. O calor era algo que me incomodava, mas vejam bem: era. Pois, em todos lugares há ar condicionado e hoje (depois de quase 2 meses aqui), suporto o calor com mais tranquilidade. A mínima média é de 23 graus e a máxima de 29 graus.
Ritmo da cidade. Entrar no ritmo das coisas, das pessoas, do cotidiano leva tempo e demanda paciência. Essa é uma parte difícil. Ao meio dia diversos estabelecimentos comerciais fecham para a
sieste e retornam às 15 horas, outros abrem às 9 horas e encerram às 16 horas... Não existe uma regra muito clara. Então você precisa estar sempre alerta para horários. Domingo, quase nada abre.
Água e Luz. Considerando que os estrangeiros vêm em geral em circunstâncias financeiras favoráveis, é possível encontrar imóveis com geradores de energia e bomba d'água, o que torna a vida completamente normal. Caso o prédio/casa não tenha gerador, pode-se ter algum problema em determinadas épocas. No momento, tudo está normal. As pessoas dizem que, em geral, os serviços funcionam bem.
Internet. Mesma situação. É caríssima e mais lenta (1MB), considerando os padrões brasileiros. Mas existe e não chega a irritar pela lentidão. Problema com o servidor eventualmente acontecem, no entanto, e isso pode irritar muito aqueles que não podem ficar 1 dia sem acessar a rede. No momento, nossa rede acusa cerca de 256 kbps de velocidade, o que a gente usava no Brasil há uns 4 anos atrás (acho).
Telefone celular. São em geral no modo pré-pago, porém as ligações são baratas. Ligar para o Brasil é barato. A dificuldade está em não esquecer de comprar créditos! Funciona a internet pelo celular, mas na versão EDGE (mais ou menos equivalente a um "2,5G").
TV. Saímos do hotel que oferecia míseras opções de canais e agora estamos em um apartamento (ainda provisório) com TV a cabo
http://www.canalplus-afrique.com/. Muito tranquilo! Tem tudo e até radio latina e novela da globo! Uns 100 canais!
Imóveis. Aqui em Libreville sofre-se com a falta de ofertas. Muitos prédios, porém, estão sendo construídos, com instalações modernas. Nós procuramos muito e encontramos um apartamento, porém, o prédio está sendo finalizado e nos mudaremos para lá em julho (quando nossa mudança já deve ter chegado aqui - eu espero!) Abaixo fotos do apartamento que moramos, e do nosso futuro prédio - que está sendo finalizado.
Compras. Sistema bancário incipiente, portanto, compras quase sempre em dinheiro. Existe uma grande desconfiança em relação ao cartão de crédito. Existem poucos lugares com as maquininhas, onipresentes no Brasil. Chega-se ao ponto - em alguns lugares - de ser necessário preencher uma ficha e fazer uma declaração manuscrita de que será feito o pagamento. Ah, e não se esqueça de, antes de sair de uma loja, mostrar o comprovante de suas compras para o segurança. Caso não faça isso, ele vai ficar gritando para que você volte. Até que eu entendesse que era para fazer isso, já estava a loja toda me olhando! Nunca mais esqueci de mostrar meus recibos! Haha.
Saúde. Temos nos precavido bastante. Lavado bem as frutas e legumes. Cozinhando bem os alimentos, tomando água mineral e cozinhando com ela. Não saindo à noite (para lugares abertos) sem repelente. Tem boas clínicas, dentistas, muitos franceses. Quando alguém está com malária (muito comum), basta tomar os medicamentos que existem aos montes por aqui e alguns dias de repouso e todo mundo fica bem. O segredo é que, ao sentir os sintomas, as pessoas sabem identificar rapidamente a doença. Em alguns casos pode-se ficar internado, mas a maioria das pessoas se trata em casa. Tem muitas farmácias pela cidade, sempre as vejo abertas mas não garanto que sejam 24 horas.
Transporte. É preciso comprar um carro ou se acostumar a andar nos taxis mal cheirosos. Passagens aéreas para outros países são caríssimas, pela falta de demanda e pelas poucas opções de rotas. Aqui tem voos diretos para Paris, Frankfurt, Jo'burg, Casablanca, Adis Abeba e mais algumas capitais africanas das cercanias.
Gasolina é mais barata que no Brasil. Ir para o interior acho que é um desafio. No interior existem parques nacionais e lindas reservas, há um trem que faz o percurso e o problema é que ele pode atrasar muito (ouvi relatos de atrasos de 6 horas) e nem quero pensar no caso do trem quebrar no meio do caminho. Muita gente faz o percurso de carro (precisa ser um 4x4), mas também prefiro não pensar no caso de o carro pifar no trajeto... quando nós formos (?) eu conto para vocês.
Produtos. Mais uma vez: caros. Os estrangeiros, costumam viver bem aqui. Carnes paraguaias, argentinas e brasileiras.
Serviços domésticos. Tem muita gente querendo trabalhar! Muitas faxineiras, cozinheiros, jardineiros, motoristas, mordomos, seguranças... São africanos de outros países que imigraram para Libreville em busca de trabalho, assim são pessoas muito prestativas e gentis. Não cobram muito caro e é um serviço de qualidade. Como na Europa ou nos EUA, os gaboneses não fazem mais trabalhos manuais, tudo fica com os imigrantes.
Relacionamentos. Aqui existem muitos europeus e chineses, mas em especial franceses, que desde a colonização mantêm forte relacionamento econômico e político com o Gabão. Sendo assim, como em qualquer lugar, o colonizado não vê com muito bons olhos o colonizador, mas as relações fluem quase que normalmente. É muito importante mostrar gentilezas, sorrir, ser simpático e aí, em poucos dias você já tem um amigo e alguém de confiança. Uma moça que trabalha aqui, no nosso apartamento, não foi muito simpática comigo nos primeiros dias, mas aos poucos eu fui conversando com ela e, agora, depois de uma semana, ela já está muito mais solícita e me ajudando muito com o francês.
Existe também a classe alta gabonesa. E é numerosa... Já vimos Ferraris novas e aqueles Porsche Cayenne são super comuns.
Língua. Eu ainda estou engatinhando com o francês, mas já consigo fazer tudo que preciso. O problema é que existe o francês e o "
français du quartier" (do bairro). Então, não ache que fazendo seu "cursinho na Aliança Francesa" você vai conseguir se virar na rua... ahahaha. É um pouco difícil, mas seus ouvidos vão se acostumando... Eu já saio dirigindo por aí e falando com o pessoal! Já tenho amigos pela cidade... um florista, uma vendedora de loja, um ajudante do mercado...
Para os marinheiros de primeira viagem, aí vão umas dicas:
- Para saber mais sobre como é realmente uma cidade, não busque apenas fotos e sites (diversas fotos estavam desatualizadas e quase não existem sites por aqui). Procure por vídeos no YouTube feitos em carros, taxis pela cidade. Dá uma visão bem mais próxima da realidade.
- Leve em sua bagagem livros, filmes e uma boa discografia. Os livros que eu trouxe eu já terminei e agora, para ler, só em francês... e nada da minha bagagem chegar!
- Se sua mudança está indo de navio, se prepare para passar bons meses sem ela! Retiraram da nossa casa - em Brasília - dia 29 de fevereiro e até agora não sabemos quando vai chegar. O prazo era 60 dias, mas estamos chegando nos 90...
- Leve suas principais roupas, não mande tudo por container. Um pouco de tudo é necessário! Praia, piscina, academia, festas, festas, festas...
- Estar preparada para o pior é sempre melhor... a estadia se torna mais agradável. =)
Aprendendo...